Episódio 141 do Canhão Podcast dá voz a empresário afetado pelo afundamento do solo em Maceió: “Fomos esquecidos pelo poder público”

Wellington Wanderley relata perdas de R$ 7 milhões, reconhece avanços da gestão JHC e a atuação indenizatória da Braskem, mas cobra atenção aos que estão fora da área de risco

Postado em 13/05/2025 - 08:11:15
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Em um episódio marcado pela denúncia, emoção e apelo por justiça, o Canhão Podcast chegou à edição 141 recebendo, pela primeira vez, o empresário Wellington Wanderley, ex-proprietário de um posto de combustíveis nas proximidades da área atingida pelo afundamento do solo no bairro do Pinheiro, em Maceió. O episódio é considerado um marco na proposta do programa de exercer o papel de utilidade pública com isenção, especialmente ao abrir espaço para uma voz até então ignorada no debate sobre a tragédia que atingiu quatro bairros da capital alagoana.


Durante sua participação, Wellington revelou que os danos provocados pela instabilidade geológica, que forçou milhares de famílias a deixarem suas casas, ainda reverberam em sua vida. “As consequências são físicas, psicológicas e financeiras. Não acabou para quem ficou”, afirmou. Segundo ele, os prejuízos acumulados somam cerca de R$ 7 milhões, referentes à perda do seu principal bem: o Posto Farol, estrutura onde concentrou seus investimentos e que hoje está desativada e deteriorada.


Apesar da gravidade da situação, Wellington denunciou que nenhuma medida de ressarcimento ou apoio foi adotada pelo Poder Público para os atingidos das chamadas áreas de borda, regiões vizinhas às zonas de desocupação obrigatória, mas que continuam sofrendo os impactos indiretos do desastre. “Essas pessoas foram esquecidas. Não houve acolhimento, não houve reparo”, disse com pesar.


O empresário reconheceu o trabalho realizado pela atual gestão municipal, destacando avanços em diversas áreas sob o comando do prefeito JHC. No entanto, enfatizou que a falta de atenção específica às pessoas que vivem fora da área delimitada como de risco, mas que ainda sofrem com os efeitos colaterais da tragédia, tem sido um ponto crítico da administração. Em tom firme, fez um apelo direto ao prefeito de Maceió, pedindo que volte os olhos para essa população negligenciada. “Não estamos fora do mapa do sofrimento só porque estamos fora do mapa de risco”, reforçou.


Wellington também destacou que, apesar da insatisfação pessoal com os prejuízos vividos, reconhece que as ações indenizatórias promovidas pela Braskem para os moradores e empresários inseridos no Mapa de Risco foram justas e importantes. No entanto, lamentou profundamente a situação daqueles que, como ele, foram obrigados a continuar suas vidas nas proximidades da área da tragédia após os estudos técnicos não incluírem suas propriedades nas zonas de desocupação. “Ficamos com os danos, mas sem direito ao amparo. A dor e o prejuízo ultrapassam linhas traçadas em mapas”, desabafou.


O empresário ainda cobrou atuação efetiva do Ministério Público Federal, destacando que muitos empresários e famílias continuam enfrentando dívidas, perda de patrimônio e consequências emocionais severas, mesmo sem terem sido incluídos nos programas de indenização e reassentamento. “O que perdi não foi apenas um negócio, foi uma vida inteira de esforço. Isso gera traumas que a burocracia não enxerga.”


Ao longo da entrevista, ele também enalteceu o papel do próprio podcast como espaço de expressão livre e democrática. “O Canhão Podcast foi o único que me deu voz sem censura, sem cortes. Isso precisa ser reconhecido e repetido pela imprensa como um todo.


Com coragem e lucidez, Wellington encerrou com um chamado à sociedade: que se una aos que seguem ignorados. O episódio é um convite à reflexão sobre o alcance da tragédia e a omissão institucional diante de suas consequências prolongadas.


Quatro bairros de Maceió foram evacuados, mas milhares de vidas seguem afundando em silêncio.


O episódio completo pode ser assistido no YouTube e Spotify do Canhão Podcast, além das demais plataformas de streaming.